Estou lendo (33/2018): Crônica da casa assassinada (Lúcio Cardoso)
*Sinopse: o livro narra a saga dos Meneses, uma família de fazendeiros de Minas Gerais, em franca derrocada social e moral. Movidos por fortes sentimentos de inveja, incesto, desamor e ambição, os Meneses devoram uns aos outros até a mais completa desintegração financeira e moral do clã. A história é conhecida pelo relato de seus próprios personagens, por meio de cartas, diários, memórias, confissões e depoimentos. Numa linguagem metafórica, monta-se um esquema estruturalmente complexo, no qual verdade e mentira chegam aos limites do paroxismo. Uma história que somente é conhecida pelo relato de seus próprios personagens, por meio de cartas, diários, memórias, confissões, depoimentos, e cujos temas centrais são o adultério e o incesto, a loucura e a decadência. Numa linguagem altamente metafórica, monta-se um esquema estruturalmente complexo, no qual verdade e mentira chegam aos limites do paroxismo.
Publicado em 1959, o romance abalou o meio literário brasileiro ao inovar tanto na sua estrutura narrativa quanto no aprofundamento ideológico e estilístico. Seu autor, Lúcio Cardoso, um mineiro radicado no Rio de Janeiro, ganhou fama de maldito.
☞ indicado em "1001 livros para ler antes de morrer": http://goo.gl/ayPziy
✓ leitura concluída em novembro/2018: ✩✩✩✩✩ (ótimo)
Castigo e crime
"Enquanto Ana ia falando, eu próprio revivia o ambiente da Chácara naqueles tempos, todos nós acordados encadeados a uma rede insolúvel e de sentimentos partidos, uns vigiando os outros, sentindo a tempestade acumular-se, sem que pudéssemos fazer coisa alguma, porque jamais poderíamos prever de que lado romperia o raio..."
O sol castiga o jardim, castiga a casa. A casa castiga os moradores. Os moradores castigam a si mesmos. O crime: o aniquilamento lento, asfixiante, tóxico e, acima de tudo, elaborado, obsceno. Crônica da casa assassinada é um livro sobre autodestruição.
Nina é uma força da natureza: bela, livre, implacável, reativa, misteriosa e corrosiva. Ana, na aparência, é pura convenção, por dentro é corroída por uma mistura de desejo e inveja em lenta combustão.
Demétrio, o único que não tem voz própria, também fermenta em suas entranhas substâncias tóxicas. Valdo é o mais livre dos irmãos, tão liberto quanto um Meneses pode ser. E isso fará toda a diferença em seu destino. E há Timóteo: o irmão homossexual, extravagante, travestido com as roupas da falecida mãe. A vergonha da família, vive trancado em um quarto da chácara dos Meneses. Insuspeito vórtice da morte daquela casa. Mais tarde surge André, o Meneses adolescente: uma espécie de jovem Werther com ares de Raskólnikov.
E há um jardineiro...
"(...) condenamos tudo o que amamos, primeiro à agonia de nossa admiração, depois à insânia de nossos desejos."
Nas páginas iniciais, um choque. Nas finais, um susto. Espanto esse que inaugura uma espécie de sentimento de culpa que, por sua vez, gera uma inaudita vontade de voltar à primeira página e recomeçar a leitura.
Lúcio Cardoso é um mago: sua escrita é pungente, emocional e metódica ao mesmo tempo. Bruta, refinada, elegante. A atmosfera do livro sufoca, já a escrita é oxigênio puro. Crônica da casa assassinada é considerado um do melhores romances da literatura brasileira. Eu diria que é um dos melhores romances da literatura. Dostoiévski, Faulkner, Mann, Cardoso.
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