Dark Days in Brazil
We live days of interrupted dreams, of plans lost in time like leaves in the wind. We live days of repressed sadness, of unveiled mourning. Days of tears contained by the waves of continuous tears.
I heard someone say that Marta Rocha, our first Miss, left us. She left us at the very moment when the dream of a country that this nation idealized, during the youth of Marta Rocha, also dies. I heard that we are in the post-truth. On the days of post-politics. Where facts no longer matter, only belief or disbelief.
We live days where anger has been mistaken for hatred, hindering courage and pride. The watchwords are: "just use reason and be humble". Days where minority struggles are bound up by exacerbated identitarianism. We have become only loose atoms, without identity, in the winds without barriers of finance. We seek beauty only through narcissism and not to get the attention of others. We no longer go shopping out of necessity, but only to fill the void. In short, we are all "uberized".
We no longer have utopias. We no longer look at the horizon. They only offer us impossible dreams where everything depends on ourselves. As if the conjuncture around us does not affect us. A maze of illusions formed by mirrors of self-help, coaching, entrepreneurship and financial education, which never gets anywhere.
We live days of fascism dissociated from politics where fascists cry out for "freedom of expression" and fight for justice for their "rights". Days where magic overlaps science to the point that those who are intolerant of the worship of clay saints worship a medicine box or a bean seed. Days when justice systems no longer work, because as soon as the crime is discovered, the rich white man may become the suspect, but the poor black man is already condemned.
Those who manage to remain in prison in their homes due to the pandemic, observe, restrained by fear, a politician surfing in the society of the spectacle, freely promoting a genocide, watched closely by their peers who do nothing but spend hours doing "lives" where they perform electoral calculations aiming only to know who will have the "possession" of more "cattle" in the next election. Meanwhile, the money slaves support their hero, whose mission is to implement reforms of an ideology that has already died in the rest of the world, without seeing how much more poverty they will impose on the country.
We live dark days, but most of us do not realize that, because we are lost in the search for an inner self. This is bullshit, an illusion. What defines us as human beings is exactly the confrontation with one another. Therefore, we forget the pain of others. We lose empathy, we lose love and, mainly, we lose redemption.
Dias Sombrios
Vivemos dias de sonhos interrompidos, de planos perdidos no tempo como folhas ao vento. Vivemos dias de tristezas reprimidas, de luto não velado. Dias de lágrimas contidas pelas ondas de pranto contínuas.
Ouvi alguém dizer que Marta Rocha, nossa primeira Miss, nos deixou. Nos deixou no exato momento em que o sonho de país que essa nação idealizou, durante a juventude de Marta Rocha, também morre. Ouvi dizer que estamos na pós-verdade. Nos dias da pós-política. Onde não importam mais os fatos, mas apenas a crença ou a descrença.
Vivemos dias onde a ira foi confundida com o ódio, nos tolhendo a coragem e o orgulho. As palavras de ordem são: "utilizemos apenas a razão e sejamos humildes". Dias onde as lutas das minorias estão amarradas pelo identitarismo exacerbado. Viramos apenas átomos soltos, sem identidade, nos ventos sem barreiras do financismo. Buscamos a beleza apenas por narcisismo e não para colher a atenção do outro. Não vamos mais às compras por necessidade, mas tão somente para preencher o vazio. Em resumo, estamos todos "uberizados".
Já não temos mais utopias. Já não olhamos mais para o horizonte. Só nos oferecem sonhos impossíveis onde tudo depende de nós mesmos. Como se a conjuntura a nossa volta não nos afetasse. Um labirinto de ilusões formado por espelhos de auto-ajuda, coaching, empreendedorismo e educação financeira, que jamais chega a lugar algum.
Vivemos dias de fascismo dissociado da política onde os fascistas clamam por "liberdade de expressão" e lutam na justiça por seus "direitos". Dias onde a magia se sobrepõe à ciência ao ponto daqueles que são intolerantes com a adoração de santos de barro venerarem uma caixa de remédio ou uma semente de feijão. Dias onde os sistemas da justiça já não mais funcionam, pois assim que descoberto o crime, o branco rico pode vir a ser o suspeito, mas o negro pobre já está condenado.
Aqueles que conseguem ficar reclusos em seus lares devido a pandemia, observam, contidos pelo medo, um político surfando na sociedade do espetáculo, promovendo livremente um genocídio, assistido de perto por seus pares que nada fazem além de passar horas em "lives" onde efetuam cálculos eleitorais visando somente saber quem terá a "posse" de mais "gado" na próxima eleição. Enquanto isso, os escravos do dinheiro sustentam seu herói, cuja missão é implementar as reformas de uma ideologia que já morreu no resto do mundo, sem enxergar o quanto mais de pobreza vão impor ao país.
Vivemos dias sombrios, mas, a maioria de nós não enxergamos, pois estamos perdidos na busca de um eu interior. O que é uma balela, uma ilusão. Porque o que nos define como humanos e exatamente a confrontação com um outro ser humano. E assim esquecemos a dor do outro. Perdemos a empatia, perdemos o amor e, principalmente, perdemos a redenção.
August 1, 2020
Poet Thadeo Galhardo
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